sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Os ______________ se Importam Somente com o Lucro!

Um dos comentários ou “argumentos” que mais escuto no meu dia a dia, quando se trata de mercado e comércio, é o de que as empresas e os empresários jamais agirão de forma ética ou benevolente, pois seus olhos só enxergam o lucro, sendo assim míopes em relação às questões importantes à sociedade.



Pois bem, levando em consideração este argumento, primeiro vamos colocar os devidos pingos nos i's. Começaremos com a simples, porém muitas vezes incompreendida, definição de lucro:

Segundo o dicionário didático da SM, lucro é definido por: 
"<lu.cro> s.m. Ganho ou benefício obtidos geralmente em um negócio: O banco obteve muitos lucros com a negociação. A prática de exercícios físicos traz lucros à saúde. SIN. provento.
Lucrar: <lu.crar> v. Obter um benefício, especialmente de um negócio, de um encargo ou de uma ação: A empresa lucrou muito dinheiro com o novo investimento. Lucraram com algumas aplicações no banco. Lucra-se muito ao praticar boas ações.
Lucrativo, va: <lu.cra.ti.vo, va> ad. Que produz lucros ou benefícios: Um investimento lucrativo. SIN. rendoso"; 
Segundo o dicionário do Google:
"lucro. substantivo masculino.
1.Qualquer vantagem, benefício (material, intelectual ou moral) que se pode tirar de alguma coisa.
2.econ. Ganho auferido durante uma operação comercial ou no exercício de uma atividade econômica".

Agora, com a definição de lucro fresca na cabeça, podemos perceber que lucro não está relacionado apenas com dinheiro. Nestas definições, muito boas por sinal, fica evidente que lucro pode ser obtido de forma unilateral, como por exemplo, a prática de exercícios. Ainda há diversas outras formas, como a prática de boas ações ou as que envolvem comércio.
Quando uma relação de compra e venda acontece, não é somente o comerciante quem está “lucrando” com isso, parece estranho dizer, mas você também está. A relação de compra e venda, nada mais é do que uma troca. Quando você compra algum bem, produto ou serviço, você está trocando o seu tempo de vida que fora aplicado em alguma tarefa e projetado em notas de papel, por algo que você considera mais importante ou valioso.
Parece estranho dizer isto, não é evidente, mas se o produto não for mais valioso do que estas notas de papel, você não trocará. No momento em que esta troca é feita de maneira consensual, você necessariamente está lucrando.
Não sei se você já percebeu, mas quando vamos às compras e comparamos produtos semelhantes, buscamos sempre adquirir o melhor produto possível pelo menor preço possível. Chegamos ao ponto de irmos à diversas lojas concorrentes buscando pelo preço mais acessível e maximizando o nosso lucro e, consequentemente, a sensação de bem-estar por realizar esta compra.

A pergunta que eu faço é: “Qual é a problemática desta situação?”
Quando se houve quebra de barreiras éticas ao ir da quitandinha do Seu José até uma rede de supermercados, procurando por frutas e verduras mais frescas ou baratas e posteriormente realizando uma melhor refeição? Eu respondo, NUNCA!
Esta é a essência do mercado. Te prover o melhor pelo menor preço possível. É exatamente a competição no mercado que irá te garantir o melhor, dentro de “categorias” e preços diferentes.
Novamente, talvez isto não fique explícito em nossa mente, mas vamos lá. Você já se sentiu melhor ao comprar um produto ao invés de outro?
Quando você vai à uma loja escolher um celular, você analisa vários fatores - memória RAM, memória interna, processador, qualidade da câmera e diversos outros, então encontra aquele celular que atende melhor suas preferências.
Você não se sente “saindo no lucro” quando adquire este produto? Este não foi mais lucrativo do que aquele?
No momento da compra, quais foram os critérios, fora a qualidade do produto de mesma faixa de preço? Você se importou em saber o país de origem? Quanto é o salário de cada funcionário? Se esta empresa é mais eficiente em custos do que a concorrente? Se o produto é produzido nacionalmente ou internacionalmente?
Isso nem se passou pela sua cabeça, nada disso é relevante para nós (ou para a maioria de nós), o que realmente queremos é lucrar! Queremos o produto que melhor atende as nossas necessidades pelo menor custo. O produtor que se dane! Se ele não produzir o melhor pelo menor preço eu simplesmente não compro, mas compro o do concorrente.
Nós, consumidores, nos importamos somente com o lucro.

No livro “Intervencionismo: Uma Análise Econômica”, Mises demonstra como usamos a ideia de dois pesos e duas medidas quando julgamos os empresários e quando julgamos a nós mesmos.
Neste trecho a seguir, ele mostra como NÓS, consumidores, comandamos indiretamente, todo o mercado e sistema de preços e como nós somos fissurados em lucro, também.
Lembre-se, isso não é ruim! O lucro mostra como otimizar processos de produção e diminuir seus custos. Tudo isto faz com que os produtos se tornem melhores e mais acessíveis com o passar do tempo, beneficiando assim, as classes mais pobres da população, que antes não eram capazes de adquiri-los. Pense em exemplos, existem vários.
Gostaria muito de ter copiado o tópico do livro integralmente, mas isto deixaria a postagem extensa demais e afastaria alguns leitores - se é que já não afastou haha.

“ Capitalismo ou Economia de Mercado

"Numa economia capitalista, os meios de produção pertencem a indivíduos ou a sociedades formadas por indivíduos, tais como as empresas. Os proprietários desses meios de produção utilizam-nos para produzir algo ou os emprestam, mediante alguma forma de compensação, àqueles que desejam utilizá-los para produzir algo. Os indivíduos ou associações de indivíduos que produzem utilizando recursos próprios ou capital que tomam por empréstimo são denominados empresários.

"Um exame superficial poderia nos levar a imaginar que são os empresários que decidem o que deve ser produzido e como deve ser produzido. Entretanto, como eles produzem não para satisfazer suas próprias necessidades, mas para atender a necessidades de terceiros, é preciso que seus produtos sejam vendidos, no mercado, aos consumidores, ou seja, para aqueles que desejam consumi-los. Assim sendo, o empresário só poderá ser bem-sucedido e realizar um lucro se for capaz de produzir melhor e mais barato, vale dizer, com um menor dispêndio de material e mão de obra, os artigos mais urgentemente desejados pelos consumidores. Portanto, são os consumidores e não os empresários que determinam o que deve ser produzido. Numa economia de mercado o consumidor é o soberano. É ele que manda, e o empresário tem que se empenhar, no seu próprio interesse, em atender seus desejos da melhor maneira possível.

"A economia de mercado tem sido denominada democracia dos consumidores, por determinar através de uma votação diária quais são suas preferências. Tanto a contagem de votos numa eleição como os gastos efetuados no mercado são maneiras de aferir a preferência do público. São os consumidores que decidem, ao comprar ou se abster de comprar, se um empresário será bem-sucedido ou não. Enriquecem empresários pobres e empobrecem empresários ricos. Tomam os meios de produção daqueles empresários que não sabem como utilizá-los para melhor servir os consumidores e os transferem para aqueles que forem capazes de melhor utilizá-los. Na realidade, somente os empresários que produzem bens de consumo têm contato direto com os consumidores; são eles que recebem diretamente as ordens dos consumidores. Mas essas ordens são logo transmitidas aos empresários que estão procurando vender no mercado os seus bens de produção. Os produtores de bens de consumo têm que adquirir, onde for possível, pelo menor preço, os bens de produção que necessitam para atender aos desejos dos consumidores. Se não forem capazes de comprá-los pelos menores preços e utilizá-los de maneira eficiente, não serão capazes de oferecer aos consumidores o que eles desejam e pelo menor preço; outros empresários mais eficientes, que sabem comprar e produzir melhor, logo ocupariam seu espaço no mercado. O consumidor, como comprador, pode decidir com base no seu gosto e na sua fantasia. O empresário tem que decidir pensando sempre na melhor forma de atender ao desejo do consumidor. O empresário que assim não agir verá que o retorno do seu investimento está sendo afetado, causando-lhe prejuízos e, portanto, colocando em risco a sua posição como empresário.
          
"Por ter que contar cada centavo, o empresário muitas vezes é acusado de insensibilidade. Mas são os consumidores que o obrigam a agir dessa forma, porque não estão dispostos a pagar por gastos desnecessários. O que o empresário faz no seu dia a dia para administrar sua empresa lhe está sendo determinado pelos consumidores que, pelo seu comportamento no mercado, indiretamente determinam os preços e os salários e, portanto, a distribuição de renda entre os membros da sociedade. São as escolhas dos consumidores que determinam quem poderá ser empresário e proprietário de meios de produção. A qualidade, a quantidade, o tipo de mercadoria a ser produzido e sua forma de comercialização são diretamente influenciados pela forma como o consumidor gasta seu dinheiro.
          
"Numa economia de mercado, os empresários não formam uma sociedade fechada. Qualquer indivíduo pode se tornar um empresário, se for capaz de melhor antever a evolução do mercado, se conseguir inspirar confiança nos detentores de capital e se suas tentativas de agir por conta própria forem bem-sucedidas. Uma pessoa se torna um empresário, literalmente, abrindo seu próprio caminho e se expondo ao teste a que o mercado submete todo aquele que deseja ser ou permanecer empresário. Qualquer pessoa tem o privilégio de poder escolher se quer ou não se submeter a esse exame rigoroso. Não precisa ser convidado; precisa tomar a iniciativa e cuidar de saber onde e como poderá obter os meios necessários para exercer sua atividade empresarial. Há décadas vem sendo dito que na atual situação de “capitalismo tardio” já não é mais possível a uma pessoa egressa da classe pobre ascender a uma posição de empresário. Nunca conseguiram provar que isso fosse verdade. Desde que essa tese começou a ser enunciada, a composição da classe empresarial já mudou muito; um grande número de empresários, e seus herdeiros, já deixaram de sê-lo, e os mais destacados empresários dos nossos dias são, uma vez mais, pessoas que se fizeram por si mesmas (self-made men), essa permanente recomposição da elite empresarial é tão velha quanto a própria economia capitalista, e parte integrante da mesma. O que foi dito antes em relação aos empresários se aplica igualmente aos capitalistas. Um detentor de capital que não o empregue de maneira adequada (do ponto de vista do consumidor), isto é, de modo que os meios de produção sejam utilizados da maneira mais eficiente a serviço do consumidor, não conseguirá aumentar ou manter o seu capital. Se não quiser perder dinheiro, o capitalista tem que colocar seus recursos à disposição de empresas bem-sucedidas. Numa economia de mercado os capitalistas, assim como os empresários e os trabalhadores, servem os consumidores. Não parece ser necessário acrescentar que os consumidores não são apenas consumidores, e que a totalidade de consumidores é igual à totalidade de trabalhadores, empresários e capitalistas. Num mundo em que as condições econômicas permanecessem absolutamente inalteradas, o que os empresários gastassem na aquisição de meios de produção, como salários, juros, aluguéis, lhes seria mais tarde devolvido por estar incluído no preço de seus produtos. Os custos de produção seriam, portanto, iguais aos preços dos produtos, e os empresários não teriam lucro nem prejuízo. Mas, na realidade, as condições econômicas mudam a todo instante e, por isso, a atividade produtora é essencialmente incerta e de caráter especulativo. Os bens são produzidos para atender a uma demanda futura, sobre a qual não podemos ter no presente uma certeza absoluta. É essa incerteza que dá origem aos lucros e perdas; lucros e perdas empresariais dependem de sua capacidade de antecipar corretamente a demanda futura. O empresário bem-sucedido é aquele que consegue antever os futuros desejos dos consumidores, melhor do que os seus competidores.”

Para finalizar, descreverei alguns produtos que eram restritos às classes privilegiadas da sociedade, mas que hoje, todos têm acesso e que talvez nem saibam ou percebam o quão luxuoso este produto era no passado. Começando com alguns que nem parecem ser “requintados” e que hoje são bem comuns, passando para outros que ficam mais evidentes onde a competição é necessária e benéfica: Açúcar, frutas disponíveis o ano todo, calçados, saneamento básico, carros, celulares (lembra daquele S3 que todos queriam há uns 3 anos atrás e que hoje ninguém mais quer?), computadores, televisores, perfumes, estudo e etc...
Não condenem o lucro, condenem as práticas desleais e imorais. Condenem àqueles que tentam burlar o mercado, procurando parcerias governamentais que os privilegiam e tiram você da posição de quem deve ter suas necessidades supridas. Boicotem empresas lobistas. Apoiem empresas idôneas e que promovem o bem. Apoiem empresas que buscam o lucro, mas que não perdem a humanidade.

E para quem leu até aqui:
Muito obrigado,

- Liberdade em Formação

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